quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

Desejos e necessidade – Iniciando uma história


O seu desafio é criar uma história. E não ė tarefa fácil, mas se você vem mantendo o hábito de observar e estudar os comportamentos e a cultura ao seu redor, com certeza dará pra começar algo. Preste atenção nas necessidades humanas. Observe o esforço exercido por cada pessoa em metas. Veja como fazem para viver, seus sonhos, desejos e anseios. E, é claro, nesta pesquisa você vai descobrir que muitos buscam por mais amor, por superação, reconhecimento, segurança e prazer. Há um desejo de conquistar status por meio da habilidade ou sorte. Tem gente querendo aproveitar estas duas possibilidades, afinal, em alguns casos, não dá pra contar só com a sorte ou só com a habilidade – às vezes precisa-se das duas. Somada a elas é bem-vinda a força espiritual, do destino e até do cosmos conspirando a favor, pois, para patrocinar o caminho ao sucesso é preciso muito.
Se existe um objetivo, deve haver um desejo, forte, firme, e deve ser praticamente uma súplica de tão intensa a vontade chegar lá. E está aí a grande sacada da sua história, explorar as necessidades do seu personagem inspirando-se no resultado de sua observação. Seu protagonista só se tornará interessante dentro da sua história se houver uma ânsia, uma vontade de chegar a um local ou conquistar algo. E quais dificuldades vão impedir seu herói de alcançar as metas, salvar a donzela ou recuperar a fórmula mágica? Sua história precisa de conflito, de necessidade, de desejo. Quem ou o quê será o opositor de seu personagem determinará o quão difícil será para ele atingir o objetivo. O como ele está envolvido na história, de corpo apenas ou de alma também. O quanto ele está realmente e intensamente apaixonado? Se ele não estiver inspirado a ponto de manifestar paixão em suas atitudes, a audiência não se interessará por ele e se ele não desperta curiosidade será sem graça, chato.
Existe um potencial de boas histórias no seu bairro, na sua rua, nos locais que você trafega. Com paciência e disciplina, é possível descobri-las, explorá-las e desenvolver uma narrativa a partir deste olhar. Se a observação ainda não é sensível, é possível sensibilizá-la com treino, com prática.
No mundo existem pessoas perdedoras, fracassadas, derrotadas. Existem as vencedoras e também as quase vencedoras, as meio-termo e as nem lá nem cá, algumas no caminho da vitória talvez. E exatamente estas diversas pessoas em situações distintas gostam de assistir a personagens com as quais vão se identificar, se emocionar, rir ou chorar.
O expectador quer ver aquele protagonista que sofre superando as intempéries da vida. Elas se iludem, têm a consciência de que se trata de uma ficção, mas esperam ver algo diferente, inédito, e quando a história é bem trabalhada, sentem-se participando da narrativa, dos acontecimentos mesmo quando sabem ser impossível tais fatos ocorrerem na vida real. A existência é feita de conflitos e dificuldades, de rotinas e chateações.
A arte entrega um olhar diferente. Escrever narrativa é praticar arte, é estimular a emoção, tirar o tédio, dar outra visão. A audiência quer ir além do seu dia a dia – boas narrativas as fazem viajar.
As histórias bem contadas têm o poder de inspirar.
O mundo está cheio de histórias esperando alguém ir lá e trabalhá-las.

Autor: J. Mauro de Oliveira (Professor do Curso Gratuito  de Cinema & TV na Ong ABENAF)

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